quinta-feira, novembro 09, 2006

Páginas da Vida



Ciúmes de um cadáver
Alice tem uma crise e ameaça se matar





“Cuide da namorada morta, mas não descuide da namorada viva”. Os ecos da frase de Alice, dita no calor da discussão, em plena sala do advogado da família de Leo, ainda ressoam. E pior, ainda causam estragos, feito uma tsunami de ação prolongada. Não serviram de nada os berros, os beliscões que levou de Leo naquele dia, muito menos as ameaças que ele fez dizendo que acabaria definitivamente com o noivado se ela continuasse a interferir na sua idéia de levar Francisco para morar com eles e torná-lo seu legítimo herdeiro.

Assim que chega em casa, Leo encontra a noiva mimada trancada no quarto, fechada para o mundo. Depois de uma pequena pausa para conversar com Hortênsia – ela a voz mais sensata naquela casa –, ele respira fundo e segue ao encontro da fera.

Discussão
Sobre a cama, Leo encontra uma mala enorme e dentro dela quase todas as roupas de Alice. Ela mal fala com ele, cheia de rancor. Está magoadíssima pelas grosserias de antes e decidiu partir. Sente-se em meio a uma disputa irreal e não quer concorrer com o fantasma da ex-namorada morta.

Ainda se fosse alguém de carne e osso, ela poderia travar um duelo justo. Mas com um cadáver, sente-se impotente, incapaz de qualquer reação mais eficiente. É o fim de todos os seus sonhos.

Leo não se conforma. Para ele, Alice está tendo uma crise tola, infantil. Mas ele próprio tem uma reação parecida. Num gesto impulsivo despeja todo o conteúdo da mala dela no chão. Alice se irrita, berra alguns insultos, entre eles o desejo sincero de que fique provado que Francisco não é seu filho coisíssima nenhuma. E parte para cima dele disposta a revidar. Acaba levando um sonoro tabefe. Em vez de fazê-la parar, a dor latejante no rosto só aumenta seu ódio. “Nem mesmo casar com você eu quero... Nunca te amei!”, grita Alice. Farto daquilo tudo, Leo passa a concordar com a decisão da noiva. Alice que se dane, que vá para o raio que a parta. Mas ela não pára de falar. Fala pelos cotovelos e leva a discussão para sala de estar.

Pandemônio
“Ele me bateu covardemente”, grita Alice disposta a escandalizar Hortênsia. Leo já anunciou a decisão dela de partir para um hotel e também admitiu ter-lhe dado uns trancos para ver se ela parava com a histeria.

Mas tudo que diz serve apenas para deixar a avó ainda mais nervosa. O pandemônio se estabelece. Aos berros, Alice agora anuncia em tom irônico que o noivo está apaixonado pelo cadáver da ex-namorada e pelo filho bastardo. Parece uma louca. De longe, as empregadas vêm ver o escândalo e cochicham baixinho. Leo perde a cabeça novamente e avança sobre Alice. Nesse novo round, ele começa a chacoalhá-la mandando que vá embora de uma vez. Ela escapa, tira o anel de noivado e arremessa longe: – “não quero mais nada seu...Tenho horror a você”.

Como o anel não fizesse o efeito desejado, Alice começa a arremessar em Leo copos, talheres, pratos, tudo que encontra em cima da mesa. Hortênsia está apavorada. Ela e o neto tentam se proteger como podem. Até que Alice se cansa e se senta para chorar copiosamente. Aí é a vez de Leo dar o troco. Ele se aproxima e atira no rosto da noiva o resto do copo d´água. Queria apenas acordá-la, mas...

Desespero
Alice reage pessimamente. Pega uma faca de pão e ameaça se matar. É um gesto teatral, mas totalmente desesperado. Talvez, morta, tivesse mais consideração por parte do noivo. Ficam todos paralisados, tensos. Alice encosta a lâmina no pulso e manda que Leo se afaste. Nisso a avó de Leo desmaia, sendo acudida pelas empregadas. É a salvação. A vertigem de Hortênsia desvia a atenção de Alice que acaba desarmada por Leo.

O sufoco acaba. Mas, pelo jeito, só por enquanto.

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