terça-feira, novembro 14, 2006



A presença de Nanda
Leo conversa com a ex-namorada... Sonho ou realidade?






Na noite de um dia extremamente estressante, Leo simplesmente não consegue mais dormir. Atormentado pelos recentes acontecimentos, em vez de relaxar, ele rola na cama totalmente aceso. Trava uma luta perdida contra o travesseiro. As dificuldades encontradas no reconhecimento da paternidade de Francisco e, sobretudo, os sucessivos escândalos protagonizados por Alice tiram o seu sossego. Mas esses não são seus únicos fantasmas. Há também o peso de um tormento antigo, uma culpa jamais esquecida, um incômodo do qual parece não ter como escapar: – o abandono à Nanda, cinco anos antes. Por que não atendeu às suas súplicas, por que não se dispôs a viver integralmente o amor que sentiam um pelo outro? Tão linda, tão sincera, tão romântica aquela relação... Anos luz da que mantém hoje com Alice. Essa, sim, um verdadeiro pastiche do seu ideal de união... Quanto arrependimento

O chamado
É com esses pensamentos todos na cabeça, que Leo ouve um ruído vindo de fora do seu quarto. Ele se levanta e sai para verificar. No fim do corredor, uma nesga de vestido, uma mulher não identificada, um vulto sem rosto, escapa furtivamente escada abaixo. Quem seria? Curioso, ele vai atrás. Desce as escadas com pressa. Está escuro, e estranhamente frio. A janela do living está aberta. O vento balança as cortinas. Quem a teria deixado aberta? Intrigado, ele vai fechá-la. Mas outro ruído chama sua atenção. Leo vira-se bruscamente e derruba um vaso, que se espatifa no chão, espalhando água e flores por todo canto. O ambiente, de repente, se vê empesteado por um forte odor floral. Seria de rosas aquele cheiro? No segundo seguinte, ainda hesitando entre os cacos, Leo ergue a cabeça e se depara com ninguém menos que Nanda, em carne e osso.

Cacos reais
“Sempre te amei, Leo”, diz a ex-namorada, misteriosamente ressurgida do mundo dos mortos. Ainda impressionado com aquela imagem surpreendente, Leo gagueja. Mas subitamente entende que se trata de uma oportunidade ímpar para se redimir pelo mal que cometeu a ela no passado. “Quero que você me perdoe...”, pede com a humildade dos arrependidos de coração. Nanda não responde, mas emenda com um outro pedido, que soa ainda mais intrigante. Ela quer que seus filhos cresçam juntos. Antes que Leo consiga reunir forças para explicar que isso será impossível já que Clara está morta, ele enfia o pé num caco de vidro e urra de dor. O grito faz desmanchar-se no ar a imagem de Nanda. Para onde teria ido? No lugar dela, surge ainda mais nítida a figura de Alice: – “acorda Leo, acorda...”. Sem saber direito onde está, Leo abre os olhos. Estava dormindo e um grito seu despertara Alice, a seu lado na cama.

Intrigante
Mas como? A imagem de Nanda era tão real! E a dor também. Ele olha para o pé e vê um pequeno corte sangrar. Novamente ele se levanta e faz o mesmo trajeto do sonho. Desce as escadas e, no living, encontra tudo como vira nos sonho. A janela está aberta e o vaso de flores, espatifado no chão. Só não há mais Nanda, nem mais ninguém.

Leo olha para a cena e entende que está diante de um fenômeno sem explicação.

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